21.6.07

Sabe... Eu sempre achei que existia uma linha muito tênue entre a imaginação e a vida real... Porque eu sempre fui capaz de imaginar coisas e agir como se elas existissem... Como a minha vontade de estudar, meu pai imaginário, minha preferência por suco de beterraba ou minha eterna paixão por um certo rapaz...

Eu era CDF porque acreditava ser, não porque realmente gostasse de ficar sentada horas estudando... Talvez eu só não tivesse muito o que fazer... Sei que aos 14 anos, fora ver malhação, mtv, friends e dawson’s creek, eu não fazia muita coisa... Era aquela vidinha de colégio, aula de inglês e pronto. Tanto é que no ano seguinte, quando eu ganhei um computador, passei a dedicar bem menos tempo aos estudos... E a prova maior de que eu nunca gostei de fato de estudar, é que eu fiz publicidade.

Eu tomava suco de beterraba porque achava bonita a cor... E achava bonito a vovó fazendo... E ela ainda misturava com suco de laranja, que é meu preferido, de forma que dava pra engolir... E eu saia dizendo que adorava suco de beterraba... Na verdade eu gostava mesmo do ritual e da cara que as pessoas faziam quando eu dizia que adorava suco de beterraba. Só não era mais divertido do que quando eu dizia que meu pai tinha morrido... Isso, inclusive, eu ainda faço... E tenho sorte do blog não ser muito lido, ou eu perderia a chance de continuar me divertindo com as pessoas...

Na verdade eu tenho o que a sociedade chama de pai, que foi aquele cujo espermatozóide fecundou o óvulo da minha mãe e etc... Esse eu não sei nem onde anda, nem sei se reconheço... Porque só conheço por fotos de quando eu era bebê... E é dele que eu falo quando respondo que está morto a quem me pergunta pelo meu pai. É muito divertido ver a expressão de pena das pessoas...

Fora esse, tem o que eu considero meu pai, que é um tio que mora em São Paulo... E tem o meu padrinho, irmão da minha mãe, que foi quem eu chamei de pai quase a vida toda, pra fingir que eu tinha um quando eu era criança e queria que meus coleguinhas pensassem que eu levava uma vida normal... Ele nunca teve autoridade comigo, porque eu nunca deixei... Essa não era a função dele... A função dele era ser meu pai imaginário, ir comigo nas reuniões da escola e me permitir usar seu nome nas minhas aulas de redação. Ponto. Mas aí chegou a adolescência, eu não precisei mais disso e ele deixou de ser meu pai pra ser só mais um familiar enfadonho, dos quais eu fujo.

De relacionamentos eu também sempre fugi... Mas aí tem esse rapaz... E eu sempre achei tão bonito gostar dele... Quando a gente se conheceu ele gostava de outra e tinha toda aquela coisa do ele-só-tem-olhos-para-ela... Até que um dia ele me viu e quis alguma coisa comigo e nós finalmente ficamos e poderíamos até namorar e... Ops... Claro que eu não deixei que a gente namorasse. Com o namoro, nossa linda historinha ia cair na rotina e perder toda a mágica... Tratei logo de me afastar dele... E os anos se passaram, ele ficou longe, a gente se encontrava às vezes e... Tudo começou a ficar bem parecido com De Repente É Amor... Bem parecido na minha mente condicionada, né? Porque às vezes parece bem que eu criei toda uma história e contei pras pessoas, de forma que a maioria delas realmente acredita e vê sentido... Mas nem eu mesma sei o que é verdade...

Talvez eu só imagine que gosto dele... Mas talvez eu realmente goste de suco de beterraba, ou de estudar. Nem sei bem se esse texto é uma grande invenção... Como eu disse: é a tal linha tênue... Você nunca sabe...

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