era um dia de sol quando, de cabelos soltos e pés descalços, Joana correu até a porta de entrada, parou... e a intenção era respirar fundo, mas esse ar não veio. só conseguiu um leve suspiro que ela não soube se era de angústia ou de alívio.
mas a porta de madeira desgastada estava a sua frente e tudo que ela precisava era coragem pra enconstrar a mão na maçaneta enferrujada e deixar que seus olhos percorressem a casa até encontrar com os dele, na penumbra.
porque foi assim que ela imaginou...
todos esse anos, quando ele dizia "estou chegando", ela imaginou exatamente assim: correria de volta pra casa no final da rua e, quando seus olhares se encontrassem, todo o resto estaria dito.
mas agora, ali, parada, era mais que isso.
não era só a chegada dele. era também a volta dela. Joana não sabia se queria isso. se queria voltar aos dias em que seu coração batia apertado, limitado à distância de um quarteirão.
depois que ele se foi, o coração de Joana ganhou quilômetros. ela até encontrou o sótão colorido dentro de sua própria casa e a brisa da manhã agora refrescava como nunca.
ainda assim, o impulso de vê-lo era maior que a vontade de dar as costas e entrega-se às cores que ela havia encontrado.
então, após os dez mais longos segundos de ponderação já passados por Joana, ela abriu a porta e, enquanto escutava o rangido, seus olhos passavam por cada detalhe da casa que parecia a mesma de cinco anos atrás, com todos os seus tons de cinza devidamente conservados.
e Joana se deu conta de que ele não estava ali. não se sabe se a pouca iluminação que não permitiu que o visse ou se ele apenas preferiu não mostrar-se, mas é fato que o tão esperado encontro de olhares não ocorreu.
e Joana respirou fundo, com todo o ar que não veio quando ela chegou naquela porta. parecia o mesmo ar das brisas matinais no seu sótão. o mesmo ar que vinha deixando-a leve a bastante tempo.
era um ar de alívio. um ar de quem não precisava mais dos tons de cinza da casa da esquina.
então Joana fechou a porta e caminhou um quarteirão de volta.
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